sábado, 27 de agosto de 2011

Tente, invente, faça um dia dos pais diferente


Uma vez por ano, nos dedicamos a carinhos, comidinhas, denguinhos e presentinhos para os nossos pais. Todo segundo domingo de agosto é assim, café, almoço ou jantar de primeira qualidade ou de acordo com que nossos bolsos podem bancar.

Até o ano passado eu tinha dois pais. Esse ano, infelizmente minha lista diminuiu, mas o amor ainda é o mesmo. Não vou ficar aqui falando elucubrações sobre esse assunto, porque tenho consciência de que já falei demais sobre ele em colunas passadas.

O que eu quero mesmo falar é que não há mais filhos como antigamente, nossa rotina louca de trabalho e casa é bem diferente do que a vida que nossos pais levavam a pouco menos de 30 anos atrás. Consequentemente essa nossa rotina corrida alterou a forma de comportamento dos nossos filhos hoje.

Eu sou do tempo em que meninas brincavam de pular elástico, jogar pedrinhas, muita manja, esconde-esconde, patins, bicicleta, bandeirinha e claro a boa e velha salada de frutas (pêra - uva - maçã - salada mista). Hoje observo minha filha adolescente e vejo o quanto a geração dela está sendo diferente da minha.

Brincar na rua descalça de todas essas brincadeiras que eu já falei era um martírio. O negócio dela sempre foi computador e televisão. Só que agora, essa constatação que estou dividindo aqui com vocês, ganhou confirmação científica. Oh! Agora sim, podemos acreditar no que todo mundo já sabe.

A pesquisa foi encomendada por adivinhem quem? Discovey Kids, aquele mesmo canal de assinatura que nossos filhos passam horas assistindo e que muitas vezes atua como educadores das nossas crianças. Lá em casa mesmo, minha caçulinha de dois anos, já sabe algumas cores, formas e até palavras em inglês graças a ele.

Mas vamos ao que interessa, a pesquisa foi feita com 1.500 assinantes e descobriu que 89% dos pais entrevistados, costumavam brincar na rua e que 77% tinham o hábito de ir a pé para a escola.  Eu estudava no Cnec, lá no Segundo Distrito, colégio de freiras (bem que vovó tentou colocar juízo na minha cabecinha desde cedo) e adorava vir a pé para casa. Na volta, dava aquela paradinha oficial na praça em frente ao quartel da Polícia Militar e aí sim, seguia para o sossego do meu lar.

Atualmente, menos de 15% das crianças de até dez anos de idade andam por ai sem a companhia de um adulto. Outra diferença é que antigamente 51% dos pais andavam sozinhos de ônibus, hoje apenas 1% dos filhos faz isso. Vou citar de novo o exemplo lá de casa, minha filha deve ter andado de ônibus duas ou três vezes na vida. Tá certo que ela volta a pé da escola, mas vai de carro, mamãe faz questão de deixar o bebê dela na porta da escola todos os dias (se ela ler esse trecho ela me mata).

Essa mudança é refletida pelo medo da violência que assola a vida moderna. Isso faz com que os pais mantenham seus filhos longe das ruas, seguros no aconchego do lar. Diminuiu também o número de crianças que dormem na casa de amigos ou que recebem amigos para jogar vídeo-game. Como toda ação tem uma reação, os pais tentam compensar isso, dando mais autoridade aos filhos, dando o poder de eles escolherem o que querem comer, o horário de dormir e o programa na televisão. A pesquisa aponta que 64% das vezes em que pais e filhos assistem televisão juntos, são as crianças que escolhem o que será visto.

Além disso, o levantamento aponta que 57% das crianças possuem um aparelho de TV no quarto, 19% deles já desfrutam de um aparelho celular , 96% dessas famílias contam com banda larga em casa e um terço dos pesquisados contam com a ajuda da internet para fazer seus deveres de casa.

Essa pesquisa me chamou a atenção pela diferença gritante de estilos de vida em gerações tão próximas. Nossos filhos andam se relacionando com os amigos muito mais por telefones e computadores do que pessoalmente.
Sabedores disso, porque não fazemos um Dia dos Pais diferente, em vez do conforto do ar-condicionado, que tal um passeio pelo Parque Chico Mendes ou mesmo, uma brincadeira qualquer na frente de casa?

Um feliz Dia dos Pais a todos!

*Texto publicado no jornal Página 20 de 14 de agosto de 2011.

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