Em resposta ao meu artigo da semana passada, a historiadora Fátima Almeida escreveu:
“A Jannice, é também filha da Jane (pessoa muito querida), que é filha do Jose Higino, falecido, irmão do Sansão Ribeiro, ex-reitor da Universidade que fez Escola superior de Guerra, período da ditadura militar, pai da Márcia Regina, chefe de Gabinete civil... A Jannice fala assim, dos altos dos saltos porque tem como se diz “costas largas”. Em História importa muito o lugar de onde o Historiador olha, vê e fala. Eu descendo de nordestinos que só tinham a sua força de trabalho. Portanto, ela defende o capital e eu, o trabalho. E só isso.”
O que tenho a dizer é que Dantinhas era filho de nordestinos pioneiros e desbravadores dessa região, foi criado no Seringal de propriedade de seu pai denominado Novo Andirá que localizava-se entre as terras do Amazonas e do Acre. De acordo com José Alberto Fragoso Dantas (meu pai), sobrinho de Wanderley Dantas, as terras do seringal pertencente à família compreendiam em torno de um milhão de hectares e nos tempos áureos da borracha chegou a produzir 600 toneladas de borracha.
Antes de pertencer à família Dantas, o seringal era propriedade de uma firma inglesa chamada Leite Corporacion (falava-se leite corporeichon). Esta firma era de bolivianos e ingleses e tinha aproximadamente cinco mil pessoas entre seringueiros e suas famílias.
O seringal existiu até a década de 80 e inicio dos anos 90, tendo sido considerado um dos maiores latifúndios do Brasil, classificado entre os dez maiores. Então, assim como a historiadora Fátima Almeida, os Dantas também descendem de nordestinos que se deslocaram a este território, em busca de melhoria de vida e trazendo consigo somente a força do trabalho.
Vale ressaltar que a história não é igual para todos, por tanto, há nordestino que mesmo vindo de família humilde consegue vencer na vida, como foi o caso do Coronel Sebastião Dantas e do próprio ex-presidente Lula, que aliás, procurou contribuir sensivelmente para a relação trabalho e capital.
Não estou aqui defendo capital ou trabalho, defendo sim a história. Também não pretendo entrar em discussão acirrada, no entanto, as ações de Wanderley Dantas foram mal vistas por muitos e eu, não de salto alto, mas como conhecedora de uma outra versão, me sinto na obrigação de difundi-la. Embora, minha opinião é de que capital e trabalho são interdependes, prova disso chama-se China, que hoje é uma das economias mais fortes do mundo.
Por isso, é que volto a falar que o êxodo da população seringueira para os centros urbanos, cedo ou tarde aconteceria. Os seringais já não ofereciam condições de vida e aos poucos iam gradualmente sendo desativados. Isso já vinha acontecendo desde a primeira desvalorização da borracha. Afinal de contas, o Acre já vivia uma fase de comprometimento da sua principal fonte de receita: a extração do látex.
Há de se reconhecer que houve falha na forma como se deu esse processo. Não houve um planejamento prévio ou qualquer outra providência que tivesse por escopo proteger essas populações. Talvez o caminho fosse o zoneamento territorial, tão em voga nos dias de hoje. No entanto, não era cogitado naquela época, afinal, a orientação do governo federal era: “integrar para não entregar”. E a ocupação dos espaços vazios, com certeza, era a melhor forma de atingir esse objetivo.
A borracha a cada dia gerava menos receita, não porque tinha perdido para o boi a sua hegemonia e sim por não conseguir preço compensador nos mercados do sul do país, face à maior competitividade da borracha sintética.
Já a pecuária que durante anos foi de subsistência, fazendo com que a população se visse obrigada a dormir em filas nos mercados na tentativa de adquirir um quilo de carne que fosse, foi somente a partir da década de setenta, quando Dantinhas assumiu o governo, que os pecuaristas começaram a se instalar no Estado, e os acreanos passaram a comer carne sem precisar enfrentar longas e cansativas filas nas portas dos mercados. Prova disso, é que a pecuária já mostrou sua importância na economia acreana e tem hoje papel fundamental na geração de emprego, renda e alimento.
Por fim, agradeço a historiadora Fátima Almeida pelo levantamento de minha árvore genealógica e pelas palavras carinhosas dirigidas a minha mãe, como diria meu avô José Higino, ainda somos terra de muros baixos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário