Conversando com meu colega de trabalho, Marcelo Quintella, ele me falava de uma tal curva descendente, na qual todos nós entramos. Segundo ele, lá pelos 40 anos, começamos a ficar saudosistas, cheios de recordações dos tempos de juventude e começa também a contagem regressiva da vida.
No momento da conversa fiquei meio assustada, até porque, quando jovens sempre imaginamos que somos integrantes do clã MacLeod, daquele guerreiro imortal vivido pelo ator Christopher Lambert no filme Highlander, ou seja, que nada de mau pode nos acontecer e que seremos eternos. E tudo é vivido intensamente, o amor, a raiva, as coisas se transformam em casos de vida ou morte.
Já quando adquirimos um pouquinho mais de idade, de responsabilidade e de maturidade, começamos a ficar mais flexíveis, menos emoção e mais razão. Isso acontece lá pela casa dos 30 anos, mas nada que nos faça refletir que a vida é finita.
E conforme a casa dos 40 vai se aproximando percebemos que somos passíveis de erros, que nos importamos mais com os filhos que com nós mesmos. Que nem sempre sair pra balada é a melhor opção da noite e que ficar em casa curtindo a família tem grande valor. Que palavras de amor realmente devem ser ditas, pois algumas vezes nos arrependemos do silêncio lá na frente e principalmente que de hailander não temos nada.
De repente já se passaram 15, 20, 30, 40 e poucos anos e o que realmente queremos é ter nos transformado numa pessoa que orgulhe nossos pais, mas que principalmente sejamos fonte de princípios para nossos filhos. Afinal, agora são eles quem queremos impressionar e não mais o carinha mais paquerado ou a mocinha bonitinha.
É, de fato Marcelo tinha razão, essa tal curva descendente existe. E agora, depois que eu soube da sua existência, vivo a refletir sobre isso e me lembrei que certa vez li um livro onde o autor dizia que para nos comunicarmos bem durante uma palestra deveríamos saber que tipos de platéia iríamos ter. Platéia onde a maioria são jovens deve-se falar muito em planos, no futuro, afinal, eles têm uma vida toda pela frente.
Já quando a platéia é composta por pessoas mais velhas, devemos ser saudosistas, lembrarmos o passado de vez em quando, afinal, essas pessoas não fazem mais muitos planos e adoram recordações, assim, segundo o autor, seguindo essa regrinha básica conseguiremos prender a atenção do público e quem sabe até torná-los participativos.
Perceberam a tal da curva descendente? Talvez nosso rei Roberto Carlos já tivesse consciência e por isso, costumava cantar:
“Se você pretende saber quem eu sou
Eu posso lhe dizer
Entre no meu carro na Estrada de Santos
E você vai me conhecer
Você vai pensar que eu
Não gosto nem mesmo de mim
E que na minha idade
Só a velocidade anda junto a mim
Só ando sozinho e no meu caminho
O tempo é cada vez menor...”
Já eu, sigo ainda assustada com a descoberta da bendita curva e com o eco das palavras do meu saudoso avô José Higino que aos 81 anos de idade costumava dizer que cada dia de vida era um dia a menos na contagem regressiva de nossa caminhada por esse mundo de meu Deus.
Belo texto, Jannice.
ResponderExcluirNa verdade, essa "curva descedente" também pode ser descrita como a estrada da vida.
Parabéns pelas belas linhas que descrevem um singelo pensamento.
Marcelo Quintella Migueis.