terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O Haiti é aqui

Eu até tentei buscar outro assunto para escrever aqui que não fosse o terremoto no Haiti, mas minha cabeça não pára de lembrar e relembrar toda hora a tragédia que se abateu num país, já tão castigado por golpes políticos e pela pobreza.

Enquanto a rica Europa assiste a tudo tão atônita quanto à própria população do Haiti, uma vez que, muitos por lá nem se quer sabiam da existência de um país tão pobre e muito menos que ainda há no mundo uma forma de pobreza tão agressiva em relação ao ser humano (como dizia Zilda Arns), nosso Brasil arregaça as mangas e toma a frente no que se pode chamar de início da reconstrução não só do país, mas também da dignidade de seu povo.

Além de semelhanças culturais também temos experiências com a fome, a seca e o desemprego. Elaboramos tecnologias de manejos que ajudam no combate a miséria, tais como: reaproveitamento de alimentos através do uso de cascas e talos dos vegetais e desenvolvemos projetos como a Pastoral da Criança, que combate a desnutrição infantil. Tudo isso poderá ser colocado em prática e será de grande valia.

No entanto, é necessário agir rápido. A cada dia que se passa a fome e o desespero aumentam e uma linha muito tênue separa aquele povo da violência. O Estado é frágil e ainda não está organizado, não tem sequer máquinas pesadas para ajudar a limpar a cidade e a tirar de debaixo dos escombros seus mortos.

O que se vê a todo o momento pela televisão são pessoas desnorteadas andando pelas ruas entulhadas de cadáveres e cavando com as próprias mãos em busca de sobreviventes.

Além do trauma físico, a aflição também é com as outras mazelas que sempre se fazem presentes em momentos como esses, em virtude da aglomeração de pessoas. São algumas delas: doenças infecciosas, epidemias de diarréia devido à água e alimentação contaminadas, hepatite A, sarampo e rubéola.

Também é bom lembrar que os corpos em decomposição atraem ratos que se proliferam rapidamente e são causadores da leptospirose e mais adiante, também é preciso se preocupar com as doenças transmitidas por vetores: dengue, malária e o temido HIV, aliás, esse último deve ser um dos enormes receios dos voluntários, pois, grande parte da população haitiana é portadora do vírus e se não houver precaução pode ser que alguém que esteja lá para ajudar, se contamine.

Enquanto algumas celebridades fazem doações milionárias, alias, aqui vale até um parêntese para dizer que até agora a maior foi feita por Gisele Büdchen (um milhão e meio de dólares), ainda há quem ache desnecessário toda essa mobilização mundial em prol do Haiti e se comova muito mais com a tragédia de Angra dos Reis.

Somente uma pessoa que diz nunca sair de seu quarto sem antes se maquiar, mesmo quando está descansando em casa, como é o caso da cantora Sandy (ex-Sandy e Júnior), pode achar isso. Com certeza, ela não sabe que no Haiti as mães produzem biscoitos de barro para alimentar seus filhos e que em muitas famílias é comum se fazer escolhas que não giram em torno da cor do batom ou qual sombra combina com o blush, mas sim, que filhos alimentar e quais serão entregues a própria sorte, sem água e comida, encostados na parede da casa, esperando a morte chegar.

Vejam bem, eu não estou aqui dizendo que Angra não merece atenção, mas se formos comparar as proporções, veremos claramente quem mais precisa de ajuda. As doações em dinheiro estão sendo feitas, mas existem protocolos de entrega e de como se gastá-los que chegam a durar meses, por isso, a importância da doação de alimentos, roupas e remédios.

Termino com um trecho da música Haiti de Caetano Veloso: “E quando você for dar uma volta no Caribe/ (...) e apresentar sua participação inteligente no bloqueio de Cuba/ Pense no Haiti/ Reze pelo Haiti/ O Haiti é aqui/ O Haiti não é aqui...”


Mulher Haitiana preparando biscoitos feitos de manteiga, sal e barro.

* Texto publicado no Jornal Página 20, de 18/01/2010.

6 comentários:

  1. Sandy não comparou o Haite com as enchentes no Brasil.
    Ela só questiona que não ve essa atenção toda quando acontece uma trajedia aqui....ela acha correto dar TODA A ATENÇÂO E AJUDA AO HAITI, mas que é estranho politicos, autoridades brasileiras se mobilizarem tão rapido ao Haiti e aqui no Brasil na hora da trajedia demoram, somem....eu acho que poucas pessoas tem a capacidade de ver o que esta por traz dessa SENSIBILIZAÇÂO, AJUDA HUMANITARIA dos governantes...afinal o EUA já ocupou a Somalia mas ñ obteve exito e logo que ngm mais noticiava se retirou....

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  2. Nunca é de mais lembrar quem tanto precisa de nós...
    Ajudar o Haiti é imperioso, é urgente!!!

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  3. É mister que nos mobilizemos para promover a dignidade humana. Sabemos que tanto o Brasil quanto o Haiti sofrem mazelas provocadas pelo descaso dos poderosos. A questão que fica é: O que podemos fazer para que pessoas não sejam massacradas pelo sistema opressor que, ao invés de governar com retidão os que estão sob seu julgo, lucram exorbitantemente sobre a miséria do povo? Sinceramente, temos muito por fazer, cruzar os braços e esperar a dura sorte de viver ou morrer não dá...

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  4. O comentário acima foi de um jovem do Instituto de Teologia de Ilhéus

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  5. gostei ;) mais da do dos Haitianos :((

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  6. Eu acho que todo homem deve ajudar seu semelhante.
    Se as pessoas se tornarem mais humanas, nomes de países a serem ajudados não estarão mais em discussões quando vidas de semelhantes estiverem em jogo.

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