Nos idos de antigamente ao lado da minha casa funcionavam o Jornal O Rio Branco e a Imprensa Oficial do Estado, mais conhecida como SERDA (Serviço de Divulgação do Estado do Acre). E não eram raras as vezes que eu presenciava prosas longas ou curtas na calçada da minha casa de pessoas como Zé Leite, Garibaldi Brasil ou Edson Martins.
Na frente da minha casa havia um enorme pé de jambo que fora plantado pelo meu avô. Essa árvore agraciava não só a nós aqui de casa, mas também, algumas pessoas que na sua sombra aproveitavam para gozar os intervalos de trabalho. A maioria dos freqüentadores vinha para fumar seus cigarros e muitos costumavam ‘filar’ o cafezinho da minha avó.
E nesse meio eu cresci. Costumava passear toda serelepe entre as máquinas do jornal. Ficava horas olhando a preparação da chapa. Às vezes eu até ajudava na construção de uma ou duas palavras, mas, criança inquieta que eu era logo me cansava. Além do mais, perto das máquinas tudo era muito quente e barulhento.
No SERDA foram poucas as vezes que por lá andei. Não sei pq, mas eu morria de medo do Edson Martins. Como antigamente não havia ar-condicionado, por lá se trabalhavam com as janelas abertas e sempre tinha duas ou mais pessoas batendo papo na janela tbm aproveitando para fumar seu cigarrinho.
Além dos intelectuais também conhecíamos em primeira mão as belas moças que participavam dos concursos de beleza aqui em Rio Branco. Por não ter um estúdio os fotógrafos costumavam pedir para usar a paisagem verde da minha casa como fundo das fotos das beldades.
Uma das coisas que me recordo muito bem é que o Zé Leite vivia numa guerra contra o cigarro. Ele fumava e fumava muito mas, vez ou outra resolvia parar. E nesse período de abstinência enchia os bolsos de balas de leite. E eu gostava do Zé, não só pela amizade que ele tinha com os meus avós, mas principalmente pq ele sempre me dava muitas das suas balas.
Enfim, o universo intelectual de Rio Branco daquela época era freqüentador da nossa calçada. Hoje não tem mais a sombra frondosa do nosso querido pé de jambo. Meu avô teve que cortar pq estava estragando a calçada. Nosso muro baixo que servia de banco para os fumantes, tbm foi trocado por uma grade bem mais alta que ele. O jornal O Rio Branco mudou de dono e de endereço. O SERDA não existe mais. O Zé Leite, o Edson Martins, o Garibaldi Brasil e minha vózinha já partiram dessa vida.
E agora só restam lembranças daquele tempo de muro baixo, sombra, cigarro e cafezinho. O zé virou prêmio, o Edson referência em crônica, o Garibaldi anfiteatro da Universidade Federal do Acre e minha vó saudade.
Nossa...
ResponderExcluirMenina eu tava lendo aqui, e de repente surgiram uns flashes cinematográficos na minha cabeça.
Imaginei vc contando essa história, tipo vc sentada de baixo dessa árvore, vc com uns 90 anos...
Pareceu com aquela cena do Titanic!
;-)
quando eu disse que mães não deveriam usar internet eu quis dizer aquelas que bisolham a vida dos filhos em busca de alguma coisa para poderem brigar. HAHAHAHA
ResponderExcluirLembranças... essas são no momento o meu mundo... tenho que lembrar do passado de uma senhor que estou estudando pra montar o meu futuro...
ResponderExcluirExercitar a construção de uma paisagem na minha mente, lendo o sua crônica, foi sem dúvida uma experiencia interessante.
Pena que o desenvolvimento da cidade de RIO BRANCO, tire o prazer desses momentos descritos e os transforme apenas em lembranças e crônicas na net... adorei o texto... me fez viajar.
Caramba, tu até parece SouSa. Está escrevendo bem. Parabéns. Bjos.
ResponderExcluirQuando eu era crianca viva em cima de um pe de goiaba que tinha no pé da minha casa. As vezes sinto saudade...mas basta lembrar dos milhares de bichos que vinham em cada goiaba que a sauade some rapidinho..rsrs
ResponderExcluirJannice, espero que vc ainda entre no blogger!!
ResponderExcluirBem, quero plantar um pé de jambo na minha casa. No entanto, tenho medo da raiz!!
Vc sabe me dizer se ela destroi a calçada??
Desde já, muito obrigada!!
Meu e-mail: annapferreira@yahoo.com.br