sábado, 10 de fevereiro de 2018

O tempo não para quando precisamos sofrer


Letícia e Eduardo se conheceram ela ainda era adolescente, estudava o último ano da escola, ele um pouco mais velho, já trabalhava, era bancário. Os dois namoraram por muitos anos, até que resolveram noivar e casar. Nesse período, Eduardo resolveu sair do banco e com o que recebeu de indenização, decidiu abrir um negócio próprio. Quando casou ele era empresário e já conseguia viver uma vida financeira bem estável.

Eduardo vinha de uma família grande, eram cinco irmãos. Ele sempre foi o mais calado, mas também ponto de equilíbrio de todos.  Era nele que buscavam apoio e conselhos quando necessário. Letícia só tinha um irmão, família pequena, mas também bem unida. Quando eles casaram, se tornaram todos uma grande família. Sempre se reuniam nos aniversários, natais e festas de fim de ano, mas principalmente nos finais de semana. Era uma alegria geral.

A vida era um mar de rosas, resolveram que primeiramente iriam viajar e se curtir bastante até terem o primeiro filho. E assim fizeram, até que alguns anos depois Letícia ficou grávida. Ela deu a luz a uma linda menininha a qual deram o nome de Amanda. Poucos anos depois nasceu Felipe, a família crescia mais uma vez. Agora estava completa a felicidade do casal.

A vida seguia perfeitamente bem, casamento tranquilo, os filhos crescendo, viagens de férias em família, algumas vezes somente os dois (uma espécie de lua de mel). A vida financeira do casal também só melhorava. Ela sempre muito estudiosa havia terminado seu mestrado e além do emprego fixo, começou a trabalhar como professora em uma universidade particular. Ele com sua boa visão de empresário conseguiu diversificar os negócios da família. Enfim, estavam vivendo uma fase maravilhosa, colhendo os frutos plantados durante toda uma vida a dois.

No entanto, Edu precisou passar por cirurgia, não era nada tão complicado quanto se tornou. Uma sequencia de tudo o que poderia dar errado o levou ao coma. Letícia sempre foi uma mulher de fé e nesse momento se apegou ainda mais a Deus. Seu grande esteio também veio da prima e melhor amiga Cristina e de sua cunhada Alana. As duas se fizeram presentes e incansáveis. Infelizmente Eduardo perdeu a luta pela vida.

Letícia se viu sozinha. Ela precisava se fazer forte para poder dar força para os dois filhos, que agora estavam na adolescência. Era como se estivesse em um pesadelo e não conseguisse acordar nunca. Ela que sempre foi cuidada e mimada por Edu se viu sem chão. Tudo a fazia lembrar-se dele, até mesmo quando precisava cuidar de pequenas coisas que antes nunca havia se preocupado como, por exemplo, um simples problema no portão de casa. Essas tarefas simples que antes eram realizadas por ele, agora estavam sob sua responsabilidade. Isso fazia com que além da imensa tristeza que sentia pela perda de seu companheiro de vida, também se sentisse sobrecarregada com todas as responsabilidades que passara a ter.

Seus ombros pesavam imensamente. O coração se fechou em luto. Seu sorriso deixou de existir e quando raramente aparecia poderia facilmente ser reconhecido como sendo forçado. Ela se dedicou mais ainda ao trabalho e aos filhos na esperança que aliviasse a dor em seu coração. Nos momentos em que estava sozinha, ela desabava, rezava com fervor enquanto as lágrimas escorriam pelo seu rosto.

O tempo foi passando, um mês... Dois meses... Três meses... Um ano... A dor e a saudade ainda faziam morada em seu coração. Ela sempre se perguntava por que tudo aquilo tinha acontecido. Se ele tivesse morrido de uma doença grave ou algo assim, será que ela conseguiria compreender melhor o caminho que Deus traçou para eles? Ela não sabia responder. No entanto, a vida precisa prosseguir e infelizmente o tempo não para que se possa sofrer. Mesmo em luto, Letícia se levantava todos os dias tentando dar um ritmo de normalidade em seu cotidiano. Por maior que fosse a dor ela se levantava, tomava seu café da manhã com o casal de filhos e saia para trabalhar.

A vida seguia lentamente, se arrastava sem a presença de Eduardo. Mais um ano se passou e a saudade ainda era grande, seu coração ainda não conseguia aceitar seu estado civil, ela não conseguia se ver como viúva. Seu olhar ainda não tinha recuperado o brilho de viver, seu sorriso ainda era triste. Algumas pessoas a criticavam pelo tempo do luto se achavam no direito de entender o que se passava em se íntimo, diziam que ela precisava esquecer.

Ela simplesmente não conseguia, ainda amava Eduardo com todas as suas forças. Aos poucos tentava retomar sua vida social, o que era muito difícil, mas ia seguindo, caminhando devagar, um dia por vez. Algumas manhãs a saudade apertava mais, outras eram melhores e assim Letícia levava a vida sem Eduardo, sempre na espera de que seu coração se acostumasse com a ausência dele.

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