sábado, 10 de fevereiro de 2018

O vazio e nada mais


Foi simples assim. Eles terminaram e ponto. Não ficou saudade. Não ficou nem mesmo lembranças de cheiros, músicas ou dias especiais. Talvez nunca tivesse havido amor. 

Os dias se passaram e se tornaram meses que por sua vez se transformaram em anos, mas que nunca deu a eles uma oportunidade do reencontro. Nem mesmo no supermercado, na padaria ou na banca de jornal. Parecia que um dos dois havia se mudado para outra cidade.

Mas naquele fim de tarde foi diferente. Ela voltava para casa, enfrentando o engarrafamento do dia-a-dia, prestando atenção nas notícias que ouvia pelo rádio, quando olhou para o lado e o viu.

Parado no carro vizinho, enfrentando o mesmo engarrafamento ele só pensava em chegar em casa a tempo de assistir ao jogo de futebol. Nem se quer percebeu que ela estava ao seu lado. 

Aos poucos os carros foram se afastando. Ela ficou observando ele seguir em frente tamborilando os dedos no volante enquanto cantava alguma música da moda. Não ficou nervosa, nem mesmo ansiou para que ele a visse. Entre eles apenas o vazio ficou.

Ao chegar em casa ela começou a refletir sobre o assunto. Como poderia haver tanta indiferença entre duas pessoas que se relacionaram por anos a fio? Renata começou a olhar a para o filho que sentado no chão da sala brincava alegremente com seus carrinhos. O pequeno Murilo era fruto do relacionamento dos dois. Infelizmente o término deles também pôs fim ao relacionamento entre pai e filho.

Ela ficava se perguntando quantos casos iguais existiam por ai. Era incapaz de compreender como após anos cuidando e convivendo um pai simplesmente saia da vida do filho sem nenhum sentimento de culpa. Ela sabia que eles não eram mais uma família, talvez nunca tivessem sido, mas Francisco não havia deixado de ser pai. Queria que ele fosse presente na vida de seu filho. Era um desejo que o destino não lhe proporcionara.

Cabia a ela ser o pai e a mãe. Ser a pessoa que levava pra passear, pro futebol, que fazia as atividades da escola, ensinava e cobrava boas maneiras. Não achava o fardo pesado, o amor que sentia era imenso, tornava tudo isso pequeno demais diante da oportunidade de ver seu filho crescendo com saúde, de estar perto de cada pequena grande conquista, como o primeiro dente, os primeiros passos, o primeiro dia na escola, as primeiras amizades fora do círculo familiar.

Claro que existiam os momentos que se sentia só, principalmente quando Murilo adoecia, mas logo passava afinal ela já tinha se acostumado a ser “pãe”. A grande prioridade de sua vida era se tornar cada dia uma pessoa melhor para que seu filho sentisse orgulho dela. Queria ver seu filho realizado, construindo uma linda família, sendo feliz.

Nesse momento seus olhos se voltaram novamente para o centro da sala, Murilo sorria feliz em meio a seus brinquedos. Uma sensação de que estava no caminho certo aqueceu e acalmou seu coração. Ela então resolveu fazer uma oração em agradecimento, fez em voz baixa, sorriu, deu um abraço apertado em seu filho, andou em direção a cozinha, era hora de preparar o jantar. Mais um dia estava chegando ao fim...



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