Foi simples
assim. Eles terminaram e ponto. Não ficou saudade. Não ficou nem mesmo
lembranças de cheiros, músicas ou dias especiais. Talvez nunca tivesse havido
amor.
Os dias se passaram e se tornaram meses que por sua vez se transformaram em anos, mas que nunca deu a eles uma oportunidade do reencontro. Nem mesmo no supermercado, na padaria ou na banca de jornal. Parecia que um dos dois havia se mudado para outra cidade.
Mas naquele fim de tarde foi diferente. Ela voltava para casa, enfrentando o engarrafamento do dia-a-dia, prestando atenção nas notícias que ouvia pelo rádio, quando olhou para o lado e o viu.
Parado no carro vizinho, enfrentando o mesmo engarrafamento ele só pensava em chegar em casa a tempo de assistir ao jogo de futebol. Nem se quer percebeu que ela estava ao seu lado.
Aos poucos os carros foram se afastando. Ela ficou observando ele seguir em frente tamborilando os dedos no volante enquanto cantava alguma música da moda. Não ficou nervosa, nem mesmo ansiou para que ele a visse. Entre eles apenas o vazio ficou.
Ao chegar
em casa ela começou a refletir sobre o assunto. Como poderia haver tanta
indiferença entre duas pessoas que se relacionaram por anos a fio? Renata
começou a olhar a para o filho que sentado no chão da sala brincava alegremente
com seus carrinhos. O pequeno Murilo era fruto do relacionamento dos dois.
Infelizmente o término deles também pôs fim ao relacionamento entre pai e
filho.
Ela ficava
se perguntando quantos casos iguais existiam por ai. Era incapaz de compreender
como após anos cuidando e convivendo um pai simplesmente saia da vida do filho
sem nenhum sentimento de culpa. Ela sabia que eles não eram mais uma família,
talvez nunca tivessem sido, mas Francisco não havia deixado de ser pai. Queria
que ele fosse presente na vida de seu filho. Era um desejo que o destino não
lhe proporcionara.
Cabia a ela
ser o pai e a mãe. Ser a pessoa que levava pra passear, pro futebol, que fazia
as atividades da escola, ensinava e cobrava boas maneiras. Não achava o fardo
pesado, o amor que sentia era imenso, tornava tudo isso pequeno demais diante
da oportunidade de ver seu filho crescendo com saúde, de estar perto de cada
pequena grande conquista, como o primeiro dente, os primeiros passos, o
primeiro dia na escola, as primeiras amizades fora do círculo familiar.
Claro que
existiam os momentos que se sentia só, principalmente quando Murilo adoecia,
mas logo passava afinal ela já tinha se acostumado a ser “pãe”. A grande
prioridade de sua vida era se tornar cada dia uma pessoa melhor para que seu
filho sentisse orgulho dela. Queria ver seu filho realizado, construindo uma
linda família, sendo feliz.
Nesse
momento seus olhos se voltaram novamente para o centro da sala, Murilo sorria
feliz em meio a seus brinquedos. Uma sensação de que estava no caminho certo
aqueceu e acalmou seu coração. Ela então resolveu fazer uma oração em
agradecimento, fez em voz baixa, sorriu, deu um abraço apertado em seu filho,
andou em direção a cozinha, era hora de preparar o jantar. Mais um dia estava
chegando ao fim...