sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Novinho

Todas as tardes Helena costumava ir para o parque perto da sua casa para dar uma corrida. Numa dessas tardes ela conheceu Getúlio, um jovem rapaz, de pele branca, cabelos lisos e castanhos. Enquanto ela corria ele se aproximou e se apresentou. A cada volta que ela dava sorrisos eram trocados.

No entanto, ela percebeu que a diferença de idade entre eles era gritante. Não ligou muito pra isso, tanto que ao final da corrida trocaram telefones. Pouco tempo depois que chegou em casa ele telefonou, pediu para falar com ela mais tarde pois ainda iria jogar futebol. Será mais um história de Eduardo e Mônica*? Ela pensou, sorriu e aguardou o telefonema.

Enquanto isso pensava na sua ‘apaixonite’ do momento. Um homem alto, cabelos negros, inteligente, por nome de João. Como pude me envolver assim? Resolveu então deixar rolar o que tivesse que rolar com o novinho, era assim que ela costumava se referir a ele. A esperança era esquecer sua paixão, o cativante João. Por dias marcaram de se ver, mas sempre na hora H ela inventava uma desculpa e eles não se viam. Até que um dia, ela o convidou para sua casa.

Ele já chegou beijando-a no portão, a tomou pelos braços, fizeram sexo no chão da sala. O sexo foi quase bom, se é que existe essa classificação. Na verdade tinha sido uma porcaria, faltou pegada, faltou talvez ela se entregar como deveria. No entanto, também faltou assunto e isso ela não perdoava.


Talvez a diferença de idade tenha sido responsável pelo vácuo entre os dois, pela falta do que falar, do que fazer. Helena até ficou na dúvida se ele realmente tinha os 25 anos que havia dito, pois o achou muito imaturo, inclusive no sexo. E quando o sexo terminou, terminou também o assunto, nunca mais se falaram...

*Eduardo e Mônica é uma canção que fez muito sucesso nos anos 80 com a banda de rock Legião Urbana

Choro engasgado

Esse sentimento que ainda não consegui identificar não sai do meu peito. Uma crise de ansiedade, que me falta o ar. Se ao menos eu conseguisse chorar. O peso das responsabilidades as vezes chega com tudo e o que eu mais queria era voltar a ser criança...

Poderia ter sido um sexo gostoso

Eles se conheceram no trabalho, se deram bem desde o primeiro momento, afinal ele parecia ser um cara bacana, riso fácil, boa conversa, sorriso bonito. Mas quando ela trocou de emprego, nunca mais se viram. Certa vez ela o viu na praça, ficou observando seu jeito de caminhar enquanto conversava com uma mulher. Nesse momento gostou dele mais do que deveria.

Benditas são as redes sociais, conectam e também possibilitam uma certa investigação na vida da pessoa. Após uma breve stalkeada, ela percebeu que ele estava solteiro, resolveu então mandar-lhe uma mensagem com o intuito de aproximação, afinal, agora ambos estavam separados.

Deu certo, trocaram telefones, inúmeras mensagens pelo wattsup, até que o primeiro encontro aconteceu. Ele optou em ir na casa dela. Tomaram umas três cervejas, algumas doses de cachaça, conversa fluia deliciosamente. Ela ficou um pouco alta pelo efeito do álcool, pois devido a correria do dia, não havia se alimentado muito bem, não havia nem jantado. Isso fez com que o enxergasse com um sorriso ainda mais bonito do que possuía.

Em um determinado momento ele a puxou para perto, eles se beijaram, foi um beijo gostoso, quente, somado a um abraço apertado e os amassos que vieram a seguir foram inevitáveis. De repente ela sentiu as mãos dele tocando entre suas pernas, ela foi ficando cada vez mais lânguida e os beijos se sucediam repetidamente... Não houve sexo, mas a sintonia entre os dois era evidente, pelo menos ela achava que era.

Marcaram de ver novamente, mas não se viram, as conversas ocorriam somente pelo wattsup. Um dia ele mandava aqueles memes bobos, no outro a conversa se tornava um pouco mais picante até que marcaram uma data para se encontrarem novamente. Nesse dia ele não apareceu, não retornou ligação, nem mensagem no watts, aliás, desse dia em diante não se falaram mais. Era como se nada tivesse acontecido, como se fosse apenas um sonho que ela havia tido.

Ela ficou confusa, chateada, triste, queria chorar, colocar pra fora a decepção que tinha passado, mas não conseguiu. Pensou que um filme triste poderia ajudar, não conseguiu se concentrar. Pensou em músicas que a fizessem colocar pra fora esse sentimento, também não deu certo. Só conseguia pensar que não entendia o que tinha acontecido, o porque de ele passar a ignorá-la após tantas conversas agradáveis.

Pior, que nem conseguia se sentir usada, pois passou então a inventar desculpas bobas se culpando pelo sumiço dele, embora no fundo, ela soubesse que não havia feito nada de errado. Apenas o havia desejado como homem, não havia amor nessa relação. Mas ele conseguiu magoá-la profundamente, pois pela maneira que conduziu toda a situação deixou claro que nem a amizade dela importava pra ele.


Ela percebeu que era hora de seguir em frente, parar de pensar no que poderiam ter vivido, no sexo gostoso que poderia ter rolado, mas vez ou outra ela ainda se pegava com os pensamentos voltados para ele... 

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Romantização dos fatos

Tava aqui elucubrando com meus botões sobre romantização dos fatos passados, não sei se isso é coisa feminina ou se os homens também costumam fazer isso, mas o fato é que nós mulheres, e eu em especial, temos a terrível mania de romantizar os fatos. Agora eu pergunto, para quê? E eu mesma respondo, somente para ficarmos sofrendo, já que essa romantização nos leva a crer que o que vivemos no passado é melhor, mais bonito, mais gostoso (sim também romantizamos quando o assunto é comida, já já explico), enfim...

O certo é que quando temos a oportunidade de vivenciar novamente em nossas vidas alguma situação ou sabor a decepção é inevitável, porque claro que não será mais essa coca-cola toda. Isso serve para uma comida que experimentamos naquelas férias maravilhosas ou mesmo para aquele caso de amor de fim inesperado que deixa sempre um gostinho de quero mais.

Explico melhor relatando um exemplo simples do que aconteceu comigo em uma viagem de férias para Curitiba. Por lá descobrimos um sanduíche feito com croissant, era uma delícia, gosto sem igual, simplesmente inesquecível. Ocorre que passei anos sem voltar a Curitiba, mas vez ou outra o sabor daquele sanduíche me fazia salivar, até que finalmente retornei àquela cidade que me proporcionou tanto prazer gastronômico.

Primeira oportunidade que tive, lá estava eu no balcão pra pedir meu sandubinha querido e inesquecível. Na hora da primeira mordida foi uma decepção, onde estava aquele sabor inigualável? Cheguei a me questionar se teria feito o pedido certo, se o recheio era o mesmo que eu costumava comer. Que nada, o que realmente aconteceu é que eu gostei tanto daquelas férias que tudo que se relacionava a ela eu tratava com romantismo, ou seja, tudo era bom, era melhor do que a média, mesmo o que nem era assim lá essas coisas. Tudo porque eu me apaixonei por aquelas férias.

Agora se consigo romantizar o sabor de um sanduíche, dá para imaginar o que sou capaz de fazer quando o assunto é romance mesmo né?