terça-feira, 2 de novembro de 2010

Com a vida escrevemos tudo

E de imortal ele se fez mortal e partiu. Hoje ele é feito de palavras, muitas palavras, palavras de carinho, conforto e de saudade, palavras que ele mesmo sempre gostou de escrever.
Eu passei alguns dias tentando encontrar uma forma de iniciar esse texto, foram muitos ensaios na busca de encontrar  as palavras perfeitas para fazer jus ao grande ‘letrado’, ao grande marido, pai e avô que foi José Higino. E a única coisa que me vinha à mente foram os anos que passamos juntos - os 36 anos de convivência e aprendizado (e que aprendizado!).
O certo é que convivemos anos e anos com as pessoas e nunca as conhecemos em sua totalidade. Por exemplo, a vida inteira eu vi meu avô envolvendo uma mão na outra e sempre achei que esse gesto fazia parte de sua timidez, mas foi no último dia de sua vida que descobri que na verdade a união servia mesmo era para acalmar um leve tremor que ele tinha nas mãos desde muito novo e que herdara do pai.
Pequenas coisas, pequenos gestos, mas que somados o tornaram gigantesco, maior do que ele mesmo. Se para um homem ser completo na vida necessita plantar uma árvore, escrever um livro e constituir família, isso ele fez, e com maestria.
Meu avô ocupava a 33ª cadeira da Academia Acreana de Letras e tinha muito orgulho disso.  Foi com ele que o Sesi e o Senai foram implantados aqui no Estado e ele também se orgulhava disso. A grama sempre verde que ornamentava a frente de sua casa também era um orgulho pra ele, assim como os mil metros que costumava nadar três vezes por semana aos 81 anos de idade.
Ele era assim, embora muito vaidoso, também era muito simples, adorava açaí e cuidar de seu jardim, mas também amava a música clássica, uma boa leitura e principalmente amava a vida. Com toda a sua sabedoria e tranquilidade, ele só conquistou amigos, mas na vida chega um momento em que se sabe que é importante para você, quem nunca foi, quem não é mais e quem sempre será, e isso, tenho certeza, ele tinha na ponto do lápis.
Muitas foram as homenagens que meu avô recebeu após seu falecimento - umas em forma de abraços, outras de palavras, todas sinceras, tenho absoluta certeza; e todas acarinharam nossos corações (meu, de minha mãe, minhas tias e demais parentes), e quando não esperávamos mais nada, eis que abro o jornal de domingo e vejo o lindo texto que o historiador Marcos Vinicius escreveu  em sua coluna “Miolo de Pote”, e escreveu com tanto carinho que quase se pode senti-lo.
Portanto, termino minha coluna agradecendo a todos que captaram a essência daquele “velhinho letrado”, que saiu jovem com toda a família lá de Tarauacá para tentar uma vida melhor aqui em Rio Branco. Que veio, viu e venceu!

Um comentário:

  1. Sabe quando eu me emociono com um texto?. Quando eu consigo me aproximar do autor em sentimento.

    Este foi o texto mais lindo que vc escreveu, Jann. Porque eu sei que vc o escreveu com todo sentimento do seu coração.

    Pude senti-lo.

    Pude tocá-lo.

    Beijos no seu coração.

    ResponderExcluir