quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Rio Branco - uma cidade que eu vi crescer

Esse texto foi escrito pelo meu avô em novembro de 2008. Retrata bem as mudanças que nossa capital teve antes, durante e depois do governo do Jorge Viana.Quem quiser ler, entre e fique a vontade.



Quem, como eu, conheceu a cidade de Rio Branco há 60 anos atrás, sabe que, naquela época, apesar da sua condição de capital e sede do governo, pouco ou quase nenhuma diferença havia em relação ás demais cidades interioranas, então em número de seis: Cruzeiro do Sul, Tarauacá, Feijó, Sena Madureira, Xapuri e Brasiléia.

Vivendo em Tarauacá - minha terra natal - por mais de uma vez, no final dos anos 40, tive oportunidade de passar por aqui e constatar que, apesar dos importantes melhoramentos introduzidos, não só nesta capital, como em todo Território, na administração Guiomard Santos, ainda eram bem precárias as condições da cidade no que tange aos aspectos urbanísticos, uma vez que, tirando-se as praças em frente ao Palácio e ao quartel da Polícia Militar, ao tempo Guarda Territorial, nesse aspecto nada mais existia. As ruas eram acanhadas e, à exceção das mais centrais como a Getúlio Vargas ( até a Av. Ceará ), e partes da Epaminondas Jácome, Benjamim Constant, Av. Brasil e Rui Barbosa, a grande maioria não tinha calçamento e, se o tinha, era apenas numa estreita faixa das suas partes centrais. As demais eram de barro, com muita lama no inverno e poeira no verão. A cidade, por sua vez, limitava-se, praticamente, entre as ruas da frente do 2º Distrito, incluindo a 6 de agosto e a Av. Ceará, além dos bairros “ 15 “, Cadeia Velha e São Francisco. Tudo o mais eram casas espaças, em ruas ainda em formação.

Com relação aos serviços urbanos, dispunha-se, durante os anos 60, de um serviço de água cujo líquido era captado no rio Acre e distribuído à população sem qualquer tratamento, e isso – diga-se de passagem - apenas para um pequeno número de residências. A iluminação pública só ia até às onze horas. O transporte era precaríssimo. Até os anos 50, para se ir ao aeroporto (localizado, na época, num dos bairros, hoje, mais populosos de Rio Branco), dispunha-se de duas opções: fluvial, usando-se uma moderna e confortável lancha adquirida no governo Guiomard Santos, ou a camionete do “Português, que mais chovia dentro do que fora. Essa situação só veio melhorar no final dos anos 50, com o surgimento de algumas rurais novas e um número razoável de jipes velhos, construídos com o aproveitamento de partes de outras viaturas, pelo mecânico “Vivi”, todos, sem exceção, dirigidos por motoristas sem habilitação, não obstante com larga experiência no volante, da mesma forma que os próprios veículos, como todos que circulavam no Território, não possuíam o competente registro. Essa situação só veio se regularizar com a instalação do Serviço de Trânsito, no governo Fontenele de Castro, em 1961, cuja direção coube a este articulista.

Vários anos se passaram sem que, todavia, houvesse qualquer tipo de melhoramento no aspecto urbanístico da cidade, que só experimentou alguma mudança, assim mesmo muito timidamente, na primeira gestão do prefeito Adauto Frota, durante o governo Jorge Kalume, quando se deu a abertura de novas ruas e o alargamento e regularização de outras.. Ainda no governo Jorge Kalume veio a ponte metálica, pondo fim ao serviço de catraia, que fazia, até então, a travessia das pessoas do 1º para o 2º Distrito e vice versa.

No governo Dantas, mais uma ponte foi construída sobre o rio Acre, além de outras importantes obras como a Estação de Tratamento de Água, Estação de Passageiros ( aeroporto ), Estação Rodoviária, bem como algumas quadras de esporte, por iniciativa da prefeitura, então sob a direção do Dr. Durval Dantas. Ainda no governo Dantas teve início a utilização de asfalto, beneficiando, no entanto, somente a estrada de acesso à Xapuri, da qual chegou a pavimentar 68 quilômetros, Só no governo Geraldo Mesquita, então, é que as ruas da cidade começaram a receber esse benefício, começando pela Av. Epaminondas Jácome, na Cadeia Velha.

A população crescia, no entanto, a uma taxa nunca imaginada, ao mesmo tempo que o êxodo rural, provocado pela chegada do boi, em substituição a atividade gumífera, causava uma verdadeira inchação da cidade, com a ocupação irregular e desordenada da sua periferia pelos grandes contingentes de egressos dos seringais que, diariamente, chegavam a Rio Branco. O surgimento dos conjuntos habitacionais, por outro lado, passaram, rapidamente, a ocupar grandes áreas, que antes eram pastos e foram transformados em ruas, fazendo com que a cidade se alastrasse em todas as suas direções. A vida das pessoas, contudo, só se deteriorava, enquanto o sentimento de amor à terra parecia não mais existir. Rio Branco era, em fim, uma cidade mal estruturada, sem nenhum encanto e onde as pessoas não se sentiam bem. Os políticos se sucediam nos cargos e tudo continuava na mesma. Urgia a necessidade, portanto, de alguém com maior e melhor visão administrativa para cuidar dos destinos desta terra.

Surge, enfim, com Jorge Viana, uma nova e promissora era para o Acre. E graças as grandes transformações por ele introduzidas e, com muita competência, continuadas por seus sucessores, a cidade tem, hoje, foros de uma capital verdadeiramente moderna, com largas avenidas, praças e jardins bem ornamentados, que revigoraram e embelezaram a parte mais antiga da cidade, dando mais condições de lazer e bem-estar para o povo. As estradas, por sua vez, além de uma boa pavimentação, são bem estruturadas. Rio Branco é, atualmente, uma cidade com grandes atrativos, não deixando a desejar, em relação a muitas outras capitais de nosso país. A população, finalmente, tem do que se orgulhar, além de motivos para ter o seu sentimento de amor à terra revigorado, com reflexos altamente positivos na sua própria auto-estima, o que me leva a dizer: Rio Branco, apesar de todos os percalços, em 60 anos tu rejuvenescestes, enquanto eu só envelheci.

* José Higino de Sousa Filho, é advogado, ex-secretário de planejamento do governo Wanderley Dantas, dirigiu durante mais de 20 anos o SESI e o SENAI/AC e atualmente trabalha como assessor no Serviço Nacional da Indústria-SENAI/Acre.

Um comentário:

  1. Olá, Jannice!

    Gostei muito do seu blog.
    Faz jus ao nome (que adorei!):
    "Conversa de Calçada". Lembrei-me dos meus tempos...

    Grande abraço.

    Marcos Afonso.

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