O dia hoje ta difícil.
O peito ta apertado.
A saudade ta doendo.
O choro vem fácil.
Basta lembrar.
terça-feira, 30 de novembro de 2010
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Carolina Dantas Torchi
Era uma quarta-feira, dia 27 de janeiro do ano de 2010, quando meu marido adentrou pela porta da sala onde trabalho, sentou na cadeira que fica a frente da minha mesa, olhou no fundo dos meus olhos e disse:
- Amor, tem uma menininha ali pra gente, vamos lá ver?
Nos primeiros dois minutos, eu não consegui compreender o significado da frase até que a ficha caiu e me toquei que se referia a adoção. A preocupação foi imediata, pois, embora adoção fosse um tema recorrente em nossas conversas, a casa não estava preparada para receber uma criança. Faltava berço, mamadeira, roupas, enfim, tudo.
Assim, no horário de almoço, partimos rumo ao que chamo carinhosamente de parto do coração. Ao chegar lá, encontramos a bebê dormindo um sono profundo. Foi amor imediato, após uma rápida conversa com a mãe biológica, pegamos a criança no colo e seguimos nosso novo caminho, com uma paradinha rápida no supermercado para comprar um kit básico.
Desse dia até hoje, muitas histórias aconteceram. Coisas que realmente teriam sido um fator favorável a desistência se realmente não houvesse amor, mas ontem, 25 de novembro de 2010, recebemos em nossas mãos, uma certidão de nascimento onde constamos como pai e mãe de CAROLINA DANTAS TORCHI´, uma simpática meninha de um ano e dez meses de idade, cabelos cacheados e o riso mais fácil que eu já vi na vida.
domingo, 14 de novembro de 2010
Tarauacá X Fazenda “São José”
Por José Higino
A fazenda “São José”, no município de Tarauacá, sempre foi considerada exemplo em termos de organização, além de muito visitada, tanto pelas pessoas da cidade, como por aquelas vindas de fora, podendo dizer-se que, mesmo entre as mais importantes personalidades que passaram, na época, pelo município, poucas foram aquelas que não estiveram por lá. Dentre as mais antigas, lembro-me do Coronel Mâncio Cordeiro Lima, isso quando eu ainda era menino, o qual, tendo vindo de Cruzeiro do Sul, liderando uma caravana política do partido Autonomista, em 1934, juntamente com seus correligionários, visitou a propriedade, ficando quase uma tarde inteira conversando com meu pai, certamente devido a afinidade existente entre ambos, como pecuaristas que eram, sendo ele, à época, segundo diziam, possuidor de um rebanho de mil cabeças de gado no município, enquanto meu pai era, ainda, apenas um principiante.Um outro, entre os mais antigos visitantes, era o Dr. Rafael Dornelas Câmara, promotor público e chefe político do partido da Chapa Popular, que, com sua esposa D. Nini, além de compadres e amigos dos proprietários, eram grandes apreciadores dos leitões assados de forno e do doce de leite, uma deliciosa especialidade da dona da casa.
O Juiz de Direito. Dr. Silveira de Castro, homem de grande cultura, era assíduo freqüentador da fazenda, inclusive para solver, pela manhã muito cedo, na hora do deleitamento das vacas, vários copos do saboroso leite mungido, depois do que percorria vários quilômetros de campo, munido de um longo cajado, fazendo o seu Cooper.
O Coronel Oscar Passos, quando deputado federal pelo território, e seu correligionário Dr. José Ruy da Silveira Lino, ambos com suas respectivas esposas Iolanda e Nini, também estiveram por lá, ao tempo em que este articulista, temporariamente, dirigiu a propriedade, nos anos 50, onde foram homenageados com um almoço.
Dr.Mário Strano e sua esposa D. Odete, quando este foi promotor no município, também almoçaram, na mesma época, com este articulista.
Dr. José Lourenço Furtado Portugal, nas suas andanças assistenciais pela redondeza, como bom católico que era, pelo menos uma vez por semana passava por lá, ocasiões em que conversava, quase sempre, longamente com meu pai. Tempos depois, ao tomar conhecimento de que a fazenda havia sido vendida, não deixou de manifestar sua opinião sobre o assunto, dizendo: “A fazenda nunca mais será a mesma”, referindo-se a pouca visão do novo proprietário e ao seu inferior nível social.
Por último, para não engrossar muito a lista - e isso sem falar nas multidões que, nos dias do aniversário do proprietário (21 de outubro) compareciam em massa ao local -, queremos citar, com muito orgulho, o nosso grande mestre Dr. Jorge Arakem Faria da Silva, quando Juiz de Direito do município, num momento, por sinal, em que a fazenda já vivia a sua última fase e quando apenas o meu pai, ainda se encontrava por lá. Ainda hoje, quando ele tem oportunidade de falar sobre o assunto, não economiza palavras de elogios, sobre a forma fidalga como foi tratado, na ocasião, pelo velho patriarca.
A proximidade da fazenda com a cidade (pouco mais de um quilômetro) favorecia essa visitação. Ademais, a propriedade se situava à margem de um grande lago, conhecido, em toda região, como lago da “Intendência”, o qual, pela sua beleza, tornava o local aprazível e um verdadeiro ponto turístico.
A fundação da fazenda data do ano de 1926, quando o piauiense José Higino de Sousa, chegado a Tarauacá em 1917, depois de experimentar várias formas de ganhar a vida, decidiu-se pela atividade pecuária, valendo-se, para tanto, da experiência trazida de sua terra natal, contrariando, desta forma, a atividade então predominante ou mesmo exclusiva da região, que era a extração gumífera. Ao anunciar, na ocasião, sua idéia de se dedicar à criação de gado, os amigos chamaram-no de louco, dizendo que, pelo fato de não existirem campos naturais como no Sul e no Nordeste, a região não se prestava a esse tipo de atividade, uma vez que estes – os campos - teriam que ser feitos a braço, o que os tornaria muito dispendiosos.
Durante mais de quarenta anos, grande foi a importância da fazenda para a população da cidade e o desenvolvimento do próprio município, especialmente no que se refere ao fornecimento de produtos de origem animal, como o leite, a carne e o queijo, sem falar que de lá saía também a madeira para construção, palha para cobertura de casas - muito usado na época -, lenha para uso doméstico e o funcionamento das velhas caldeiras, tanto da Usina de Luz, como da Estação Telegráfica. O lago, por sua vez, não sendo embora de grande piscosidade, dele muitas pessoas conseguiam, diariamente, tirar o suficiente para o seu sustento e de suas famílias.
Casado com D. Bárbara Ribeiro de Sousa (D. Mocinha), com ela o proprietário teve nove filhos (cinco homens e quatro mulheres), Dulce e Dalva, as mais velhas, nascidas na cidade e os demais: José, Delna, Delza, Luís, Sansão, Edigard e Édson, nascidos naquele lugar, onde todos cresceram ajudando os pais nas lides da fazenda, sem se descurarem dos estudos, ali mesmo iniciados na Escola Virgulino de Alencar, da municipalidade, passando depois para o Grupo Escolar “João Ribeiro” e colégios particulares daquela cidade. Por falta de ensino além do primário no município, com exceção deste articulista que, por ser retardatário nos estudos, é produto final da nossa querida UFAC, todos os outros completaram os estudos, inclusive em nível superior, em centros como Manaus e Rio de Janeiro.
Além dos transtornos causados, periodicamente, pelas grandes alagações, por duas vezes a fazenda enfrentou escassez de mão-de-obra para a sua conservação. A primeira quando ocorreu, no município, um grande interesse pela exploração madeireira por parte das serrarias de Manaus, ocupando essa atividade um grande contingente de mão-de-obra. A outra, por ocasião da Segunda Guerra Mundial, com a súbita valorização da borracha e a conseqüente corrida para os seringais.
A fazenda perdurou até os anos setenta, quando o seu fundador, que lá já vivia sem a família, passou a outro a propriedade, indo morar com um dos filhos em Manaus, onde faleceu três anos depois, aos 80 anos de idade, 53 dos quais vividos no Acre e destes, 44 dedicados àquela propriedade. Graças ao seu pioneirismo e também ao grande incentivo que sempre deu a outros criadores, presenteando, muitas vezes, animais para o início de suas criações, pôde levar com ele a satisfação de saber que, de acordo com as estatísticas, o município de Tarauacá, na ocasião, era o único do Acre auto-suficiente em carne bovina, uma vez que até Rio Branco, até em tão, era abastecido com gado vindo da Bolívia por dentro da mata, com muitos dias de viagem.
Não poderia deixar de dizer, também, que ali, vivi com minha saudosa e inesquecível esposa Maria José Gomes de Sousa, os primeiros anos de casado, um período de nossas vidas marcado por muito trabalho, tendo nascido também lá, nossas duas primeiras filhas, Jeanett e Jeize, enquanto que a caçula de nome Janne, já nasceu na cidade de Rio Branco.
Em 1994,depois de decorridos mais de vinte anos desde que a outro fora passado o domínio da propriedade, e quando desta já não mais existia nenhum vestígio, tive a oportunidade rever o local e, lamentavelmente, pude constatar que, àquela altura, somente as poucas pessoas ainda existentes no município que conheceram a ambos – o lago da “Intendência e a propriedade -, vendo o que de um e outro restava, guardava ainda na memória, o que foram no passado, bem como a importância que tiveram para a vida e o desenvolvimento de Tarauacá.
O lago tinha suas águas cobertas por um plano e espesso manto verde, que lhe cobria toda face, mais parecendo um campo abandonado, onde a natureza, por todos os lados, apressava-se em reaver aquilo que lhe fora tomado, nada deixando a desejar em relação ao velho lago serrado do “Surué”. O seu desdino não foi diferente ao de tantos outros que, não sendo menos conhecidos dos tarauacaenses, caminhavam, inexoravelmente, para o desaparecimento. Assim foi no passado com os lagos do “Corcovado”, do estirão do “Paraíba”, das “Oito Praias” e tantos outros que, surgidos um dia pelas mãos prodigiosas da natureza, pela ação ao mesmo tempo implacável desta, deixarão, irremediavelmente, de existir.
Quanto a propriedade, encontrei apenas um pé de cedro por mim plantado próximo ao barracão, durante a minha infância. Embora já destroçado, em parte, pela fúria de um raio, ele ali estava ali, para lembrar ao caminhante, do alto de sua copa e sobre um emaranhado de arbustos e vegetação rasteira de toda espécie, o que no local existiu em outros tempos e que, por mais de quarenta anos, teve tanta vida e prosperidade, pois, também lá, a natureza não foi complacente, ao demonstrar, de forma bastante contundente, a transitoriedade do homem e das coisas sobre a terra.
Do lago, jamais será ouvido, como outrora, nas claras noites de lua, o tarrafear monótono dos pescadores.
Da propriedade, tampouco, ecoará pelos campos, o saudoso e plangente aboio dos vaqueiros.
Afinal de contas, tudo passa sobre a terra. É o que já dizia o grande Alencar, em seu poema em prosa “Iracema”, ao se referir ao triste fim da bela selvagem da tribo dos Tabajaras, que, por ocasião da colonização, habitava as longínquas e onduladas terras do sertão cearense.
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Solidão na calçada
A sensação que eu tenho é de que a vida perdeu o rumo (como gosta de falar o acreano). Não é a sensação de que a vida não tem mais sentido, tipo, viver pra quê? Mas é a sensação de não ter mais um caminho a seguir, um lar para voltar, um ombro para chorar, uma mão pra me afagar. É como se não tivesse mais alguém pra compartilhar comigo as minhas vitórias, na verdade é como se eu não tivesse mais ninguém pra se orgulhar das minhas conquistas, alguém pra cuidar de mim. É como se aquela calçada, outrora cheia de amigos pra conversar, hoje encontrar-se completamente vazia. Abriu-se um vácuo no meu mundo, é uma saudade muito doída.
terça-feira, 2 de novembro de 2010
Com a vida escrevemos tudo
E de imortal ele se fez mortal e partiu. Hoje ele é feito de palavras, muitas palavras, palavras de carinho, conforto e de saudade, palavras que ele mesmo sempre gostou de escrever.
Eu passei alguns dias tentando encontrar uma forma de iniciar esse texto, foram muitos ensaios na busca de encontrar as palavras perfeitas para fazer jus ao grande ‘letrado’, ao grande marido, pai e avô que foi José Higino. E a única coisa que me vinha à mente foram os anos que passamos juntos - os 36 anos de convivência e aprendizado (e que aprendizado!).
O certo é que convivemos anos e anos com as pessoas e nunca as conhecemos em sua totalidade. Por exemplo, a vida inteira eu vi meu avô envolvendo uma mão na outra e sempre achei que esse gesto fazia parte de sua timidez, mas foi no último dia de sua vida que descobri que na verdade a união servia mesmo era para acalmar um leve tremor que ele tinha nas mãos desde muito novo e que herdara do pai.
Pequenas coisas, pequenos gestos, mas que somados o tornaram gigantesco, maior do que ele mesmo. Se para um homem ser completo na vida necessita plantar uma árvore, escrever um livro e constituir família, isso ele fez, e com maestria.
Meu avô ocupava a 33ª cadeira da Academia Acreana de Letras e tinha muito orgulho disso. Foi com ele que o Sesi e o Senai foram implantados aqui no Estado e ele também se orgulhava disso. A grama sempre verde que ornamentava a frente de sua casa também era um orgulho pra ele, assim como os mil metros que costumava nadar três vezes por semana aos 81 anos de idade.
Ele era assim, embora muito vaidoso, também era muito simples, adorava açaí e cuidar de seu jardim, mas também amava a música clássica, uma boa leitura e principalmente amava a vida. Com toda a sua sabedoria e tranquilidade, ele só conquistou amigos, mas na vida chega um momento em que se sabe que é importante para você, quem nunca foi, quem não é mais e quem sempre será, e isso, tenho certeza, ele tinha na ponto do lápis.
Muitas foram as homenagens que meu avô recebeu após seu falecimento - umas em forma de abraços, outras de palavras, todas sinceras, tenho absoluta certeza; e todas acarinharam nossos corações (meu, de minha mãe, minhas tias e demais parentes), e quando não esperávamos mais nada, eis que abro o jornal de domingo e vejo o lindo texto que o historiador Marcos Vinicius escreveu em sua coluna “Miolo de Pote”, e escreveu com tanto carinho que quase se pode senti-lo.
Portanto, termino minha coluna agradecendo a todos que captaram a essência daquele “velhinho letrado”, que saiu jovem com toda a família lá de Tarauacá para tentar uma vida melhor aqui em Rio Branco. Que veio, viu e venceu!
Eu passei alguns dias tentando encontrar uma forma de iniciar esse texto, foram muitos ensaios na busca de encontrar as palavras perfeitas para fazer jus ao grande ‘letrado’, ao grande marido, pai e avô que foi José Higino. E a única coisa que me vinha à mente foram os anos que passamos juntos - os 36 anos de convivência e aprendizado (e que aprendizado!).
O certo é que convivemos anos e anos com as pessoas e nunca as conhecemos em sua totalidade. Por exemplo, a vida inteira eu vi meu avô envolvendo uma mão na outra e sempre achei que esse gesto fazia parte de sua timidez, mas foi no último dia de sua vida que descobri que na verdade a união servia mesmo era para acalmar um leve tremor que ele tinha nas mãos desde muito novo e que herdara do pai.
Pequenas coisas, pequenos gestos, mas que somados o tornaram gigantesco, maior do que ele mesmo. Se para um homem ser completo na vida necessita plantar uma árvore, escrever um livro e constituir família, isso ele fez, e com maestria.
Meu avô ocupava a 33ª cadeira da Academia Acreana de Letras e tinha muito orgulho disso. Foi com ele que o Sesi e o Senai foram implantados aqui no Estado e ele também se orgulhava disso. A grama sempre verde que ornamentava a frente de sua casa também era um orgulho pra ele, assim como os mil metros que costumava nadar três vezes por semana aos 81 anos de idade.
Ele era assim, embora muito vaidoso, também era muito simples, adorava açaí e cuidar de seu jardim, mas também amava a música clássica, uma boa leitura e principalmente amava a vida. Com toda a sua sabedoria e tranquilidade, ele só conquistou amigos, mas na vida chega um momento em que se sabe que é importante para você, quem nunca foi, quem não é mais e quem sempre será, e isso, tenho certeza, ele tinha na ponto do lápis.
Muitas foram as homenagens que meu avô recebeu após seu falecimento - umas em forma de abraços, outras de palavras, todas sinceras, tenho absoluta certeza; e todas acarinharam nossos corações (meu, de minha mãe, minhas tias e demais parentes), e quando não esperávamos mais nada, eis que abro o jornal de domingo e vejo o lindo texto que o historiador Marcos Vinicius escreveu em sua coluna “Miolo de Pote”, e escreveu com tanto carinho que quase se pode senti-lo.
Portanto, termino minha coluna agradecendo a todos que captaram a essência daquele “velhinho letrado”, que saiu jovem com toda a família lá de Tarauacá para tentar uma vida melhor aqui em Rio Branco. Que veio, viu e venceu!
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