Cada ser humano realmente tem uma visão particular das coisas que vê. Há pouco tempo eu fui testemunha de um acontecimento interessante. Uma pessoa passou no vestibular da nossa Universidade Federal (Ufac) ficou feliz da vida e aguardando a data marcada para efetuar a matrícula.
No entanto, o destino, aquele que não obedece ninguém, colocou na sua vida uma linda criança, a qual ela e o marido resolveram adotar. Planos futuros que foram antecipados inesperadamente.
A vida dos dois virou uma loucura, afinal, era preciso uma dupla adaptação: família e criança. Primeiro de tudo foi providenciar fraldas, leite e mamadeiras. No outro dia correram atrás do berço e de lençóis. Depois foram algumas roupinhas. A busca desesperada por alguém para ficar tomando conta da criança enquanto os pais trabalham, também foi umas das grandes preocupações.
Quando pensaram que tudo ia bem a criança adoeceu, melhorou e adoeceu de novo. Entre todo o corre-corre, os trâmites para uma adoção legal também estava sendo providenciado.
No meio da doce confusão que se transformou a vida desse casal, a mãe não conseguiu ir a Ufac para fazer a matrícula e tentou através de um requerimento, onde contava toda a história por qual vinha passando, que lhe fosse dado o direito de fazer a matrícula fora do prazo.
Depois de algum tempo, mais do que o necessário (vale ressaltar) sem nenhuma resposta, ela se dirigiu a Ufac para saber por onde andava o seu requerimento. Descobriu fácil, estava para PARECER.
Era uma segunda-feira de muita chuva, mas, desde as oito da manhã que ela rodava atrás desse bendito requerimento. Achou. No entanto, a senhora responsável pela emissão de parecer ainda não tinha chegado. Senta e espera, espera, espera...
Enquanto isso era obrigada a ouvir a conversa de 20 minutos da estagiária ao telefone. Nenhum dos funcionários que lá estavam se disponibilizaram a ligar para a tal senhora, para saber se ela iria trabalhar.
Somente depois das 10:30h da manhã é que a funcionária pública federal apareceu para trabalhar. Infelizmente nossa mamãe dera viagem perdida, pois a competente senhora ainda não havia dado o parecer nem no seu, nem nos três outros requerimentos de igual teor.
Mais alguns dias se passaram, sem que ninguém da Ufac entrasse em contato então, a mamãe resolveu telefonar para saber se o parecer já havia sido dado. Sim havia. E qual não foi a surpresa quando ela soube que a tal senhora, aquela que chegou quase onze horas da manhã no seu trabalho, julgou que o motivo alegado, não era forte o suficiente. Que a mãe poderia muito bem ter ido a um cartório (àqueles que se passa a manhã inteira na fila) lavrar uma procuração para que alguém fizesse a matrícula por ela.
Gente se houvesse tempo para se passar em fila de cartório, com certeza haveria tempo para ir a UFAC. Faltou sensibilidade dessa senhora, que por incrível que pareça, tem um filho de um ano de idade e que segundo ela própria, chegou tarde ao serviço porque a babá se atrasara e ela não tinha com quem deixar seu filho.
Ironia não é mesmo? Pura ironia. Pois, imagino que ela deva ter se preparado durante nove meses para ter seu filho, teve bastante tempo para compras, decorações e principalmente se preparar para ter uma segunda opção para o dia que a babá falte ou chegue atrasada, para que ela consiga cumprir sua carga horária de trabalho.
As duas chegaram atrasada por causa de seus filhos, mas, como diz a velha máxima popular: Pimenta nos olhos dos outros é refresco.
* Publicado no jornal Página 20 de 14/03/10.